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Trânsito de Londrina faz uma vítima a cada 2 horas

A violência no trânsito de Londrina está expressa em números. Aproximadamente a cada duas horas, uma pessoa é vítima de acidente nas ruas da cidade. Em todo o ano passado, 4.049 ficaram feridas, uma média de 11 por dia. Outras 83 perderam a vida. Os dados fazem parte do balanço anual elaborado pela CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização). No Placar do Trânsito, cada ponto marcado representa um retrocesso que alonga o caminho para uma convivência mais pacífica e harmônica entre pedestres, ciclistas e condutores.

Os números do Placar refletem a imprudência que se vê nas ruas. As autuações por excesso de velocidade somaram 95.846 no ano e o avanço de sinal vermelho e parada sobre a faixa de pedestre renderam 18.664 multas no período. Os flagrantes foram feitos por radares, indicando que os equipamentos não estão conseguindo conter os motoristas. Na comparação com 2017, houve aumento nessas autuações, de 6,51% e 21,38%, respectivamente.

Arquiteta urbanista especializada em mobilidade urbana, de São Paulo, Meli Malatesta avalia o comportamento nocivo dos motoristas como uma consequência da falta de políticas públicas para o setor que atendam todos os cidadãos desde a infância. Ela defende a inclusão no currículo escolar básico de uma disciplina voltada à educação para o trânsito. “Isso vale para todo mundo que um dia vai dirigir um carro, pedalar uma bicicleta, pilotar uma moto, andar a pé. Com a educação, a pessoa vai entender que a rua é um espaço público, um espaço de todos e que quem está praticando uma forma de mobilidade que tem maior situação de vulnerabilidade, como andar a pé ou de bicicleta, ou uma pessoa com deficiência, tem prioridade. Isso é uma coisa que tem que se aprender de pequeno”, afirmou.

Mais tarde, ao ingressar em um CFC (Centro de Formação de Condutores), o futuro motorista também deveria aprender que as vias urbanas são espaços que devem ser compartilhados entre todos os modais. “A maioria dos CFCs ensina a pessoa a dirigir o automóvel na postura que ele tem prioridade na via apesar de a lei prever penalidades altas para quem não obedece os artigos que mandam priorizar o pedestre e o ciclista”, disse Malatesta. “Mas também tem toda a geometria da cidade que é pensada para dar fluidez ao carro e não para as outras formas de mobilidade, que ficam sacrificadas.”

A ausência de fiscalização é outro problema que colabora para o aumento das infrações. “Não há fiscalização quando se trata de desrespeito à faixa de pedestre e ao semáforo de pedestre, por exemplo”, comentou a especialista. “Você faz campanha do Maio Amarelo, passa filminho, põe lacinho amarelo, mas enquanto a coisa não mudar para valer, a gente vai ter uma sucessão de maios amarelos com muito pouco resultado efetivo.”

Além da falta de educação dos cidadãos, o País enfrenta uma outra ameaça à segurança e ao rigor na fiscalização viária vinda do próprio governo federal, que planeja medidas que vão na contramão das leis criadas para organizar o tráfego e reduzir os índices de acidentes e mortes. Entre algumas propostas sinalizadas pelo presidente Jair Bolsonaro estão a extensão de cinco para dez anos o prazo de validade da CNH (Carteira Nacional de Habilitação), o aumento do limite da carteira de 20 para 40 pontos e a extinção dos radares para controle de velocidade nas rodovias federais.

Malatesta lembra que, em 1998, ao entrar em vigor o CBT (Código Brasileiro de Trânsito), houve, de imediato, uma queda considerável na quantidade de mortes no trânsito. Depois de mais de 20 anos, porém, esses resultados já foram diluídos e o que se vê atualmente é um quadro contínuo de elevação nos óbitos decorrentes de acidentes viários no Brasil. Com as resoluções e medidas propostas, a especialista teme um retrocesso. “A falta de educação do cidadão não permite que ele entenda a lei de trânsito, que não é uma coisa de gato e rato. Essa falta de visão, esse desconhecimento, são uma forma totalmente distorcida e bizarra de encarar as leis e que produzem sandices”, analisou. “A proposta de suspensão da carta não mais com 20, mas com 40 pontos, por exemplo, permite que o motorista cometa mais infrações gravíssimas que colocam em risco a vida humana. O pior é que tem vários setores da sociedade que estão coniventes com isso e que tinham que refletir qual o papel deles na sociedade e o que poderiam fazer em vez de apoiar esse tipo de medida.”